SOMBRA NOTURNA
Às vezes é um surto
Ou talvez uma lucidez efêmera
Que me eleva o pensamento
E me arranca do mundo
E me arranca as amarras
E me arranca as máscaras
E me arranca as vestes
E me revela a mim mesmo
Num espelho inteiro
Diante do qual vejo minh’alma.
E num relapso de memória
Eu me perco no vácuo da existência
Que me envolve em sombras
Que me arrancam confissões
Que me arrancam temores
Que me arrancam invariáveis
Que me arrancam fantasmas
E me revelam sem face
Num espelho inteiro
Diante do qual me cego.
A escuridão da noite me esconde
O corpo e o fulgor
Num vazio de estrelas
Que me arranca a claridade
Que me arranca o sol
Que me arranca a aurora
Que me arranca espera
E me revela informe
Num espelho inteiro
Diante do qual abro os olhos em vão.