Reduto
A laranjeira estende o verso para a velha casa,
O menino põe rabiola no luzeiro,
O araçá amadurece quando o lírio-do-vale desabrocha.
Há uma esteira de palha sob o abacateiro.
O rouxinol assobia um crepúsculo estrelado.
A nascente nos purpura como um beijo de missa.
O veio da encosta mata a sede das mãos.
A mulher lava os pés no riso e volta a passarandar como criança.
Uma palavra de Barros é maior que todas as preces de humanidade.
À noite, um sapo coaxa o brejo,
Os vagalumes não seguem a trilha do chão.
Uma vaca toca Bachianas desafinadas pelo rabo.
Um ouriço-cacheiro rola pelo barranco
Com seu pão e sua bicicleta de quatro patas.
Um cão apanha para deixar de ser idiota,
É quando termina a sua alegria de cão.
Por não diferenciar tolice de bondade
Um jacinto matou o jasmim amarelo.
Desparafusei um verbo para ele virar uma camélia branca.
O eco na mata deixa a voz do tamanho das montanhas.
No quintal é possível beber o néctar das lunações.
Nos morros, descer sobre as cascas dos coqueiros.
É preciso ser grande para caber nos braços da tarde,
Pequeno para os sonhos do mundo
E esticar o canto dos pássaros para tornar a terra mais habitável.