África

Nos meus sonhos

A África me aparece

Em forma de mulher.

Me agarra pelos punhos,

Me arrasta, eu esperneio,

Amedrontada.

Ela usa perneiras de cobre.

Ela canta um canto cigano. Ela

Me passa os dedos compridos

Pelos cabelos, me chama pelo

Nome da minha mãe,

Tira um pássaro da minha boca,

Me nina e me acusa.

Num sonho destes ela me uiva:

Sobe nas minhas costas,

Eu te dou carona.

Eu sempre tenho vergonha,

Apetrecho do medo. Ela

Me carrega. Eu viro menina.

Tento explicar que minha casa

Fica proutro lado,

Em vez de palavras me saem

Bombas de algodão pela boca.

Eu suo. Ela chora.

O que voce quer de mim?

A tua tristeza,

Pra tecer meu capim.

Nos meus sonhos

A África me aparece

Em forma de noite,

A boca aberta

Engolindo a terra.