Não

Chegou a hora de ir embora,

pois bem,

vou saindo.

levo (e quero) apenas os átomos,

já que é impossível deixá-los.

Na memória não levo nada.

nada, em absoluto.

joguei água sobre mim para dissipar teu cheiro,

doei as roupas que te encontraram e lavei os sapatos.

as palavras deixei em cima da cômoda,

a guerra na TV, e a paz no lenço que mais usava.

o cachorro, mesmo sendo meu, deixei porque me olhou com pena.

estava habituado ao teu jeito.

Vou embora para nunca.

não posso ir longe, mas ao menos, vou!

As mãos estão espalmadas, e as meias são novas.

o que ainda está no estômago, vomitarei na porta antes de sair.

Estou saindo!

O chão vibra com teus pulos, enquanto caminho devagar.

… estou indo.

estou indo.

estou indo.

Jana Canuto
Enviado por Jana Canuto em 17/09/2012
Reeditado em 18/09/2012
Código do texto: T3887200
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