O clandestino da embarcação.

Rio, 20-07-2012.

O clandestino da embarcação.

Eu sou um clandestino

no navio da poesia,

a tripulação não me sabe poeta.

Eu vou seguindo a função

que me permitiu entrar

nessa embarcação.

Sou faxineiro a coletar

os versos que os ditos eruditos

desprezam no saguão.

Reciclo os versos renegados

e deles faço matéria-prima

da minha inspiração.

Não almejo estar entre os distintos,

daqui vejo paisagens

que eles não mais percebem,

enquanto no salão de

cerimônias seguem cercados

de endeusamento e bajulação.

Não descarto a possibilidade

de se desmascarado ser expulso

ou mesmo até ser convidado

a me juntar a eles na

sala da convenção.

Quem sabe com isso eles

relembrem o tempo em que

estiveram na minha condição.

Afinal todos eles um dia

foram clandestinos

no navio da poesia,

antes de se tornarem mais

célebres até que

o próprio capitão,

Eram eles também catadores

de versos que os ditos eruditos

descartavam no chão.

Clayton Marcio.