KÓSMOSISÝHP
KÓSMOSISÝHP
Mensagem aos poetas do século XXI.
_ À distância eles surgem! – feito arauto brada em desespero a altaneira.
_ Eles se aproximam entre as feras, com cabelos de fogo e armas mortíferas – prossegue indignada a altaneira, alertando os demais.
_ Não ouço nada! – geme amedrontada uma das mais pequeninas.
_ Serás a primeira a arder em chamas! Eles vêm aos bandos, um exército, ateando fogo; vejo e já ouço ao longe os estrondos fulgurantes das queimadas!
O coro de Ésquilo:
_ “Bem conhecemos os seus dons proféticos.
Para o que acaba de dizer, entanto,
Ser profetisa não precisaria.”
_ Ó Pýthia, PHÝSIS é profanada! – todos exclamam.
_ Ó, a senhora é alta demais, conte-nos, em detalhes, rápido, precisamos nos proteger – em apelo profere uma mediana.
_ Proteger-se?! Amigos, amigas, altos, altas, médios, médias, baixos, baixas, rasteiros e rasteiras não há como! Em breve, estaremos todos destruídos; genocídio, tão-somente nos resta tecer uma oração, de uma civilização passada que nos respeitara, nos venerara.
_ Ó Pýthia, PHÝSIS é profanada! – clama uma voz rasteirazinha. Nossas irmãzinhas e irmãozinhos, nas grandes cidades, vertem lágrimas. Ó Pai Tupã, Senhor do Raio e do Trovão, imploramos com votos e rogativas, mais que com vingança, a lembrança dos versos da prece socrática ao deus Pã! – evoca um do medianos.
E milagrosamente as alturas despejam sem contas os versos da oração à toda gente destituída de cobiça:
[Sócrates] “_ Ó Divino Pã, e vós, deuses todos da corte celestial, deuses deste lugar, ajudai-me a buscar a beleza interior e fazei com que as coisas exteriores se harmonizem com a beleza espiritual! Fazei com que o sábio me pareça sempre rico e que eu tenha tanta riqueza quanta um homem sensato for capaz de suportar e bem governar! ‘– Por acaso teremos algo mais a suplicar? Por mim, Fedro, acho que pedi tudo o que desejo!
[Fedro] _ Pois suplica para mim a mesma coisa, já que os amigos tudo devem possuir em comum!
[Sócrates] – Então, vamos!’ ”
_ Ó razão inumana, vês tua imprudência! Destróis aquilo que ignora! – assim lamenta uma das altanerias.
_ Ó maldita humanidade, acaso não ouvistes as vozes dos bardos! Feito um veloz dardo desabarei sobre o planeta Terra, dia ou noite, ambos malditos sacrílegos Ocidente e Oriente: um de vós fareis minguante a rolar pelo KÓSMOS, pelo caos. Alcançastes os céus! – proclama a feroz Lua. _ Ai, ai, ai ai... - geme a Lua, ferida Lua, lamentando as dores das lanças nela fincadas, cuja simbologia bélico-caquética fere a pele: U.S.A x URSS _ Ó KÓSMOS, vou seguir uma pista que vai dar no sangue humano – assim profetisa a Lua.
Uma gigantesca rasteira então implora:
_ Desse modo, a nós destruirás também, ó Lua, sejas prudente! Una-se às Luas de Saturno, armas em exército contra a desumanidade.
_ Ó nobre rasteira, ruminas em vão, pois a materialidade do KÓSMOS não pode estar vinculada a desejos deste tipo. Tudo é harmonia, tudo é PHÝSIS! Hoje, à humanidade é possível saber as coisas, mas não resolvê-las. Homens e mulheres vão-se, hoje, à Escola não para estudar cultura ou estudar o mundo, enfim, o KÓSMOS, mas para dominá-lo, feri-lo de morte. As lições são lembradas ou esquecidas; esqueceram-se da estreita relação entre MYTHOS E LOGOS! Rogues a THÉMIS uma prece em louvor ao KÓSMOS. É preciso encontrar uma reconciliação entre a natureza e a humanidade. A natureza não é passiva, ELA REAGE! A humanidade não é soberana sobre o planeta Terra: o homem, em seu esforço de dominação da natureza, para se livrar do medo, voltou-se contra o próprio homem. A humanidade já não consegue controlar o seu próprio controle da natureza; esta se tornou inimiga do homem, uma ameaça ao homem: ao cavar o buraco de Ozônio a humanidade perdeu o controle sobre o controle; as explorações racionais assumiram o papel de coerção comparável ao pensamento mítico; a racionalidade funciona sobre regras de ferro. Ai, ai, ai, ai, estas engenhocas de ferro que me rodeiam, que vez ou outra ferem minha pele. Por favor, uma prece ao espaço, ao tempo, enfim, ao KÓSMOS, em nome dos deuses, nobre rasteira e demais - suplica a Lua.
Assim, um coral gigantesco, composto de altos, baixas, altas, altaneiras, baixos, rasteiras, médios, medianas, rasteiros iniciam a terna oração:
“Do ponto de Luz na Mente de Deus
Que aflua luz às mentes dos homens,
Que a Luz desça sobre a Terra.
Do ponto de Amor no Coração de Deus
Que aflua amor aos corações dos homens,
Que Cristo retorne à Terra.
Do centro onde a Vontade de Deus é conhecida
Que o propósito guie as pequenas vontades dos homens,
O propósito que os Mestres conhecem e servem.
Do centro que chamamos Raça dos Homens,
Que se realize o Plano do Amor e de Luz,
E feche a porta onde se acha o mal.
Que a Luz, o Amor e o Poder restabeleçam
o
Plano da Terra.
OM, OM, OM, OM, OM... [som do universo]
_ Não! Ó PHÝSIS, não nos lance na escuridão, nós possuímos nossas leis, porém a humanidade não as respeita, ignora-as; mas logo compreenderão, pois não concederemos nenhum perdão. As labaredas se aproximam e aqui tudo será sertão e vastidão, imensidão e aridez, grandeza e pequenez; tudo pela mesquinharia, pelo conformismo, comodismo e assassino nomadismo humano – grita uma altaneira.
_ Ó Pentesiléa e povo de guerreiras, as AMAZONAS, pela grandeza imoderação da agressividade do exército feminino, expulse os homens da AMAZÔNIA. Deixem o Egito e migrem rumo às margens do RIO AMAZONAS. Salvem as altaneiras, rasteiras, médias, baixas... com suas expedições conquistadoras! – exclama a ainda airosa Lua. _ Plante a esperança em nossos corações quanto ao século XXI. Nova geração, nossa redenção, lembrei-me d’outra oração – prossegue a Lua. Oremos:
“Olhai as aves do céu: não semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros. E, no entanto, vosso Pai celeste as alimenta. Ora, não valeis vós mais do que elas? Quem dentre vós, com as suas preocupações, pode acrescentar um só côvado à duração da sua vida? E com a roupa, por que andais preocupados: Aprendei dos lírios do campo, como crescem, e não trabalham e nem fiam. E, no entanto, eu vos asseguro que nem Salomão, em toda sua glória, se vestiu como um deles. Ora se Deus veste assim a erva do campo, que existe hoje e amanhã será lançada ao forno, não fará ele muito mais por vós, homens fracos na fé? Por isso, não andeis preocupados, dizendo: Que iremos comer? Ou, que iremos beber? Ou, que iremos vestir? (...) Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas. Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã se preocupará consigo mesmo. A cada dia basta o seu mal.”
Todos em silêncio.
Súbito, a voz de Deus, o som trovão-joyceano é um horroroso estrondo: (BABABADALGHARAGHTAKAMMINARRONNKONNBRONNTONNERRONNTUONNTHUNNTORVARRHOUNAWNSKAWN]WNTOOHOOHOORDENENTHURNUK!)... ventos e temporais varrem queimadas; elas se deitam às margens do rio Amazonas “... rolarrionna...” homens enlameados, máquinas enferrujadas... “ e passa por Nossenhora d’Ohmem’s” rio “violeiro d’amores” Amazonas; Amazônia “beirando ABahia, reconduz-nos por cominhos recorrentes de Vico”, reconduz-nos ao curso ricurso... {a poesia nos deve surpreender pelo seu delicado excesso, e não porque é diferente. Deve tocar nosso irmão como se fossem suas próprias palavras, como se ele estivesse lembrando na noite dos tempos... /J.Keats}
Ouve-se, então, a voz miudinha de uma mudinha silvestre de violeta:
_ Amigos e amigas! Antigas altaneiras seringueiras; altas seculares paineiras e altos ananis, abacateiros, taquaruçus, aquaris e araribás, salgueiros, manacás, cajueiros; médios maracujazeiros, coqueiros e bambus, carvalhos, açaizeiros; médias ameixeiras, amoreiras, guarantãs, {escrever é travar uma guerra com algo que um dia se rompeu} jabuticabeiras; as rasteiras camomilas, melancias, bacurubus, abóboras, macambiras, angélicas, trepadeiras, macacaúbas; urtigas, vertiveres, cumarus, bergamotos, peônias, hissopos, anis-estrelados, bétulas, jacintos, ervas-doce, inhames, vinhas, laranjeiras (“o laranja e o verde estão no contexto do rio” Amazonas “... desde o Éden o diabo está unido ao amor”), goiabeiras, limoeiros, quiabos, salsas, brotos de figueira, “lascas lascadas desse tronco abatido (...) emplastro do Brás (...) Mãe Ricorso; (...) alguns no tam-tam do tamborim (...) Mar o Primeiro, por que eu alloka alice semelho possíveis cervilhas vagem (...) _ Orangemen, invasores, que apodrecem como laranjas sobre o verde para um novo clico de vida. Isso acontece desde o primeiro amar ‘livry’ (a vida to live, Liffey, o rio, a mulher (...) em resposta à trovoada no terceiro parágrafo {in “Finnegans Wake”} , o coaxar das rãs no quarto (...) chove chuva chove chovendo” rosaroseando Ave, Ave Palavra chovendo pintassilgos, corujas, sabiás, carcarás, urubus, águias { “A beleza de um poema não está na capacidade que ele tem de deixar o leitor contente." /J.Keats}... só vendo;
_ TODOS!:
_ Ouçam, ao longe, de muito longe,
é choro, são choros, coro de choros,
corais de choros
provindos de hospitais;
são mulheres parindo
crianças!
Nossas esperanças
Novas...
Nova geração de bardos!
Adiemos nossas preocupações!
De oração,
por apelo ao inocentes
que, uma vez tornados adultos,
concordarão em nos deixar em paz,
nenhum mais insulto.
Do Ocidente ao Oriente,
do Planeta Azul,
guardemos e aguardemos as esperanças quanto
ao século XXI:
Não desperdicemos os poetas futuros XXI ! Aéreo “Diabdublim um diamou Lividinha Amazônia do Sul Armórica (...) Voar além nem passarão nem passarás. “En tre ter e ser” Amazonas tropica, ser Amazonas cresce flora; ser a floresta... já nascem, entre flores e matas, os aedos futuros!
PROF. DR. SÍLVIO MEDEIROS
Campinas, verão de 2007.