Poema
A tarde arrasta mil véus de saudade,
E o tempo, que o olhar não mais alcança,
Se perde lentamente na distância,
No círculo geral da eternidade.
O sol projeta-se sobre a cidade.
São vultos: um homem, um louco, uma criança,
Turvos perfis de seres sem lembrança,
Ardendo em sua anônima impiedade.
A memória, entre folhas ressequidas,
Se dilui pouco a pouco, sem cessar,
Como no céu as nuvens distraídas,
E o que fica da vida por passar
É o sentimento das coisas vividas
E a saudade do que não vai voltar.