BOEMIA

Na perplexidade do sol da manhã,
a resgatar-me da boemia,
vi-me assim desencontrado.
É torta a percepção dos sentimentos,
feito saudade de alguém.

Corre, ainda, em minhas veias,
o sangue carregado da adrenalina
dos teus olhares, dos teus afetos,
do nosso sexo. De repente a ausência
se justifica na boemia, ou, no mínimo,
numa dose dupla de whisky.

Faço trincheiras de resistência
à lembrança da tua imagem.
Inútil.

O trem que me leva pro norte
tem sempre uma estação
a me recordar o sul.
Os trilhos me traem,
conduzindo, como fios telegráficos,
mensagens que desisti de esquecer.

Em cada novo bar
há uma nova cantora,
mas a música não muda.

Viajo sempre para o norte.
Cada manhã, no entanto,
me encontra exposto ao sol
que ficou no sul.
É sempre o mesmo sol
da interminável boemia.
Como se o tempo me mantivesse
prisioneiro da mesma poesia.
Nelson Eduardo Klafke
Enviado por Nelson Eduardo Klafke em 18/07/2012
Reeditado em 27/07/2014
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