Uma homenagem aos idosos
Velhice é como um livro folheado cheio de surpresas, experiência, uma ânsia de chegar ao fim. Chegar, guardar e esquecer, porque tudo foi folheado e lido.
Velhice são dias passados, nos arroios, nas cirandas, a lua cheia é uma saudade do que foi no barco da vida, ancorando em mares desconhecidos.
Velhice é perder a força, a frescura do corpo, o preto dos cabelos, o calor do beijo. É a morte dos desejos num corpo enrugado, nos olhos embaçados eternamente marejados de lágrimas.
Velhice são as pernas tropeças, mãos gastas, esqueléticas e secas. É o esquecimento dos sonhos vividos, dos amores passados, a perda da memória querendo apagar a beleza da qual está velhice foi dona.
Velhice é um amontoado de guardados ridículo para os estranhos, relíquias, fantasmas de um mundo passado. É o aborto das dores, dos desprezos, da incompreensão e do abandono.
Velhice ninguém acredita que teu ventre foi fértil, teu corpo foi belo, tua pele sedosa como um pêssego que teu seio amamentou.
Mas eu vou te segredar: velhice eu não choro as minhas perdas; tu me enobreces; me dignificas. Minhas perdas semeiam o mundo, ensinam a lutar, a marcar com firmeza a trilha do fim. Amei e fui amada, germinei, ri, chorei, tive minha glória naquilo que almejei. Sabes velhice eu não me envergonho de você, não me escondo, não fujo e nem nego. Eu sei conviver contigo. Chegar a velhice como eu estou chegando é uma glória. É como se eu estivesse bailando em transe com o mundo vivendo, bebendo o néctar do passado e lutando com amor por todos os minutos que me restam construindo sempre minuto por minuto.
Velhice você esta chegando mais eu estou tranquila, e sabe por quê?
Você pode atingir meu rosto, meu corpo, meus cabelos; mas não chegará jamais ao meu espírito. Porque meu espírito é uma eterna jovem ardente, é como uma chama que chamais se extinguirá.