Lábios abissais
Sinto o cheiro acre-adocicado
Daqueles lábios abissais,
E sou atraído vorazmente
Para esta flor obscura.
Jogo-me sem pensar
Para sentir a ardência
De seu poderoso néctar
E me tornar desejo.
Toco as paredes macias
Desta obscura flor,
E sinto o néctar ancestral
Tocar todo meu ser ao sorvê-lo.
Espalho toda a minha Luz
Naqueles cantos obscuros
E despejo todo meu desejo
De uma só vez, vorazmente.
As ninfas da flor-abismo
Aparecem para beber
Lentamente toda a luz
Que jorra de mim.
Elas bebem tudo.
Sou engolido por inteiro
E passo a ser a luz
Que brilha nelas lá dentro.
O abismo sente todo o desejo
Que eu sinto num amálgama
Que nos reverte em caos,
Dois em cada um de nós.
Enfim, os jorros de luz
São expelidos do abismo
Em sua forma caótica
De Ninfas luminosas.