Pailavra
Há nos beiços da teima
O quase artifício do riso
Língua das chamas secretas
Trema nos dentes noturnos
É túnel por onde tentam
Pegar a palavra no pote
Desce à garganta da praça
O joelho dos mosteiros.
Sua a sombra do verbo
Ao calor dos verbocratas
E despacha a esperança
No pombo-poema-correio
De remetente ignorado
É dos cafundós de onde
Se assentou o coração.
Balança a rede dos tempos
De fofoqueiro em fofoqueiro
A fala mansa e calma
Aguarda a voz urgente
Que ressoa o útero
Onde fecundam sentidos
E os verbos se espremem.
E digo no mesmo vem cá
O foi que está no avião
É graxa da ponte serrada
Entre meus olhos e a coisa
Sim sem sal, sem açúcar
Aquilo que digo descora
O não matando a palavra
Depois que o verbo ovula.