A QUESTÃO
A Questão
Roze Alves
Então me pus diante do espelho.
Dei-lhe uma boa encarada, sem sorrir,
começaria o questionamento, enfim,
planejei isso por dias e dias, mas onde
andava a coragem de ouvir as resposta
que por certo receberia? Não fechei os olhos,
eu queria saber muitos porquês e sem
que ao menos me esperasse perguntar
me mostrou uma menina feliz, de tranças,
olhos negros e brilhantes, pura alegria...
pisquei, não queria saber de minha infância,
abri a boca e calei-me ao ver a adolescente,
corpo se formando, tudo torneado e firme,
cabelos começando a ganhar o jeito certo,
um sorriso luminoso, porém inocente,
voltei a piscar, e comecei a sentir um peso
nas pernas, a quanto já estava ali em pé?
resolvi desistir, mas ele não deixou...
apareceu a mulher responsável, cercada
de papéis, pastas, cumprindo horários
e depois de outra piscada vejo o ventre
saliente, os mesmos papéis, as pastas,
horários, panelas, vassouras, mamadeiras,
começo a me sentir sufocada pelo que vejo,
mas ele é mais forte que eu e aparecem
diante de meus olhos já querendo marejar
vários caminhos, idas e vindas, reviravoltas
Fecho os olhos com força e depois de algum
tempo torno a abrí-los bem devagar e então
me vejo como estou agora e compreendo a
mensagem que ele me passou, para que saber
os porquês já enterrados? Não importam mais.
Eu venci e continuo forte para enfrentar o que
mais vier. Sequei os olhos e abri a ele um belo
e franco sorriso. Não precisei dizer "espelho
espelho meu...", porque sendo ele conhecedor
do meu interior, sabiamente a tudo respondeu.
Amanhecer-M
RJ: 04/03/2012