Poema inacabado
Estou sem mim,
mas comigo mesmo.
Estou comigo e contigo sem
ter-te.
Estou só com minha alma...
Ela me basta?
Não.Nada me basta!
Pois existe um girassol
de inverno em teu olhar...
Vejo um fim que recomeça
sempre.
Quem sou eu?
Amo esse olhar
Pois nada restou.
Os teus olhos são dois
Horizontes, dois Nortes,
Sul Lestes além de mim.
Ah, como eu gostaria de ver-te
Um dia, como eu gostaria de
teus horizontes e mares...
Pois sou chuva.
Já fui inverno no tempo.
Tempo que diz sempre o que serei
Em meus ontems.
Não foi o tempo, como meu tempo.
Amo meu tempo.
Os teus olhos-horizontes estão em mim,
sem mim, comigo.
Ontem o dia falou comigo...
Em mim...
Dia que não renasce
dia em que renasço
De novo na estrada
Uma estrada vazia de si mesma,
de mim.
Ontem sai da cidade.
Cidade seca e oca do
infinito-céu.
Não voltei...
Vi sentados, ajoelhados e sós
Dois poetas(profetas): um dia
E uma noite, noite de tudo
Quanto já se foi.
Nada.
Quem conversava comigo?
quem me viu de costas
até aqui, quem?
diga-me quem?
Quem me viu até aqui
sentado, novo, todo?
Dentro desse tempo de enfim,
Que fui no tempo.
Ah, tempo que passou, tempo
Meu...
Tempo que antes se formou depois
Depois.
Tempo.
Eduardo dos Anjos