Dor

Com os pés descalços, os olhos opacos

Vagando pelo centro da cidade

Numa noite fria como seu coração

A bermuda rasgada, suja

No bolso uns centavos e a vida em vão

No pensamento o momento mais feliz que viveu

Aquela festa surpresa de aniversário

Família, amigos, ex-namorada

No tempo em que vivia de bola, videogame, mesada

Da janela eu posso sentir seu arrependimento

Sua vontade de estar aqui dentro

Proteção, cuidado, acalento

Andar sozinho, só com a lua como companhia

Angustiado, dor no peito, falta que faz

Sei que não quer, mas corre atrás

Anestesia sentimento

Sinestesia organismo

Fecha os olhos pra não ouvir

Cala-se pra não ver

Daqui eu vejo tudo

Sua dor indo e voltando

Seu pedido interno por socorro

Sua força se esvaindo

Seu sangue borbulhando

As grades não me impediram de gritar

Seu medo não me impediu de ouvir

E por um instante, olhos nos olhos, fomos um

Tudo vai dar certo, irmão

Segura a minha mão e vem

Eu não quero saber da sua dor

Quero saber o que fazer depois que a dor passar

Pra onde te levar

Pra que você possa descobrir outro lugar

Sair daqui, viajar sim, mas sem isso aí

Eu sei que dá. Força, vamos lá...

Lâmia Brito
Enviado por Lâmia Brito em 06/06/2012
Código do texto: T3708307
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