Alerta Geral

Preciso de palavras de ar para

soprar no vento que insiste em

vestir a máscara de oxigênio,

ludibriando meus pulmões com

sua existência muda,

incapaz mesmo de maremotos,

que dirá de pequenas brisas

quase imperceptíveis de tão

percebidas.

Preciso de gritos de pavor, desses

que fazem o tempo olhar de lado

— mistura perfeita entre distração,

desprezo e terror — antes

de continuar com o próximo momento

condenado eternamente a uma existência

confusa e desesperada com o grito que,

como epidemia, contagia a todos os instantes com

infecções de susto enquanto que o silêncio

parece remasterizar o grito para a eternidade

com todas as sutilezas que

somente o medo

sabe berrar na

ponta dos pés do ouvido.

Preciso também de muitas poças de água

para levar a humanidade a desviar sua

rota para saltos incertos sobre

calçadas que podem ser escorregadias

ou não,

enquanto o mundo encharca seus sapatos

em pleno dia de trabalho,

expandindo o chulé geral que tapa narizes

até que a própria brisa de verão seja asfixiada.

Preciso de troncos caindo nas ruas sobre

carros que andam a 100km/passo distraído

no meio dos bosques outrora esmagados

diariamente pelo pé bucólico que não combina

com a deusa grega da vitória que sequer anda

descalça, enquanto ruas bloqueadas fazem

o cotidiano chegar atrasado a sua própria

falta de tempo.

Preciso, enfim, de cartões postais,

enviados para suas próprias paisagens —

que sequer possuem endereço — para que

acordem elas mesmas

e vejam que são travesseiro de si.

Não, não basta o cartão. Precisamos, sim

do vulcão postal, erupção bucólica de lava

extremamente romântica e carinhosa que tortura

o orvalho e cospe no reflexo que a lua faz no

lago sem pensar que pode estar sendo vista nua

pelo olhar pervertido dos voyeurs,

picha a nuvem em forma de elefante ou de coelho

dependendo do ponto de vista, e urina no poste

de luz do sol do meio-dia,

...senão eu esqueço que o mundo existe

e flutuo

sem espirrar com a fumaça das chaminés,

nem tossir com o cheiro de universo queimado.

Lasevitz
Enviado por Lasevitz em 04/02/2007
Código do texto: T369492