Primavera

Partiu como um bicho voador.

E até hoje ouço os zumbizar das suas asas.

E até hoje sou um copo derramado,

Revirado de poesia e caos.

Esperando a próxima chuva.

Um disco arranhado no mesmo verso.

Poeta incompleto perdido na folha em branco.

Banco de praça à mercê dos pombos.

Pondo as mãos, e nada no bolso.

Partiu de pronto, destrambelhada.

E até hoje ouço o tilintar das suas pulseiras.

E até hoje sou rua deserta,

Seta que não acerta o alvo.

Sou calvo, carro, pneu careca.

Me acerta, me leva pra sua meta.

Deixe que eu me meta.

Me arruma.

Me joga contra o peito.

Faça de mim um homem desfeito.

Me leva.

Me lava.

Me entrega.

Me lança na tua boca salivada.

Que eu morro feliz nas tuas águas.

Partiu e deixou o cheiro de incenso.

E até hoje a fumaça revela.

E até hoje sou aquele que espera.

E a vida vai.

O tempo joga.

A rotina exaspera.

E até hoje eu preparo a terra,

Sou flor fora do tempo,

Esperando a primavera.

Kaike Lamoso
Enviado por Kaike Lamoso em 24/05/2012
Código do texto: T3685753
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