Espirais de Finitude
Concentrado nos círculos contritos
Do motor das sensações. Então sentia
A pressa de se ver, pois eram ditos
O saber, a Dança, a noite, o dia
Entre os coros secretos dos aflitos,
Quando a alma sente o mundo e é vazia.
Como brasas no horizonte imaginado,
Deformando a forma pura e inocente,
É que faz o pensamento do presente
Sem saber que há presente sempre ao lado.
Equinócios a gastar o Sol poente
E dizer ao Universo: Jogue os dados.
E a verdade que de si se fez ausente
Foi deitar sua verdade no passado.
Mas dois olhos levitaram sem por que,
E no “eu” assistiu-se a procissão
Do espelho que releu a intenção
Ao chamar o próprio Eu de “um você”.
Pois se torna a morrer a sensação,
Outro “eu” que descreve o velho não,
Quer o sim do microscópio que o Vê?
Há motivo de saber desconhecer
As camadas destas terras tão distantes
A perder-se nos receios do além-ser
O momento adornado de brilhantes.
Mas calando, escondera o Sol-nascer
Ao ladrar nos desejos mais arfantes
O farol que aprendeu a se perder.
Sob a aguda serenata dos sentidos
Há amarras de mil tempos na memória,
Faz ao peito as agruras dos vencidos,
E nos louros pranteados, a vanglória:
Parte é logos que aponta livros lidos,
Outra é mito ignorando sua história.
Quer avante, pensa o unido, se apresenta
O altar de sacrifícios passageiros.
Pensa o último e deseja ser primeiro
Ao sentir o constelado que atormenta.
Nem pra cima, nem pra longe, o Cruzeiro
Nunca para no sentir o Deus que inventa.
Criva a luz, mas o corpo de incerteza
Vem dizer dos motivos de não-ser
O pra sempre: do instante ao querer
Ter pra si, quando a vida é correnteza.
E rubrica imaginando conhecer
Os tesouros que se diz da Natureza:
Mas o Todo inexiste ao não saber
Que não sabe perceber a inteireza.
Esparrama-se a mão que não segura
Formações de ofídica contenda;
O princípio das causas que procura
E se escusa de abraçar na vasta Senda:
Assombrosas relações de dor e cura.
Pois na luz revelada tudo é lenda
Escondida na máxima verdura.
Em que cama do instinto deita o sonho
E recobre sensações no mais incerto?
Tudo é longe quando sabe ser tão perto
O Angélico com traços do medonho,
Que se amansa nas mãos do ser desperto.
Assim sente quando tem a persistência
De pousar nos tufões da inconsciência
Para o Hórus pretendido se aclarar.
Percebendo, talvez, na impermanência
Que deseja quando quer a existência,
Se a existência já não forma o desejar.
Mas desfeito o primeiro pensamento,
Volta a máquina a gastar o mesmo fel...
Nas ruas do destino, apenas vento
Do granito onde lançou o sentimento,
Sente o mundo recoberto por um véu.
Tão espesso, que sentiu estar no céu,
Pra depois retornar ao fragmento.