O CATADOR DE LATINHAS
O CATADOR DE LATINHAS
Meu mundo está mais desolador
Perdi o meu professor.
Amigo que me confessava seus segredos
Que na labuta não lhe cabia medos,...
Foi-se. Encontrava-o sempre sem sorrisos tristes
Sem máculas e de sentimentos autênticos.
Dos trezes irmãos, foi o único...
Que zelou da mãe até o seu fim.
Guiava-se pelas ruas a catar nossos lixos
Mal sabia que em nós cabia a vaidade de bichos!
Sem malícia vivia a contar-me histórias
Coisas fúteis que valorizavam nossas trajetórias,...
Tínhamos uma admiração mútua, eu,...
Por sua capacidade de amar sem barganha
E ele por meus supostos conhecimentos
Que porventura, nesse caso, é sem valor.
Como eu, era torcedor do tricolor do Morumbi
Driblava sua sorte com uma decência que nunca vi.
Tão simplório quanto os versos desse poeta-verme...
Golfei minhas entranhas no suor da minha epiderme
Quando a notícia por eu foi sabida.
Foram dez anos de uma convivência sem experiência
Sem espera por troca de favores e sem senhores.
Uma vez por semana, minha casa o esperava de portas abertas...
Mesmo em sua timidez, almoçava comigo
Ainda tinha o desvelo de me aconselhar!
Preocupava-se com que caminho eu iria tomar
Temia por meu encontro com todo e qualquer perigo,...
E sem ser letrado, entendia o que eu escrevia.
Esclarecia-se em leitura de revistas e jornais jogados ao chão
Coisas de estudiosos sem educação.
Jamais o ouvi reclamar da vida,...
Dizia-me que um dia a batalha será vencida.
Acreditava em Deus, mas respeitava esse ateu
Oposições que iluminava-nos no breu
E atrações sem nenhuma explicação.
Em suas roupas amarrotadas
Residia o verdadeiro coração em alinho
Uma nudez de vaidades e orgulhos
Era um doce na boca dos mesquinhos...
Uma altivez transpondo os pedregulhos
Um homem que era rico por amar seus espinhos
E, se realmente seu Deus existe,...
Teve uma existência das mais consagradas.
Cada dia que vivo aprendo mais
E ao mesmo tempo sei de menos.
Não sei por que cargas d’água nossos caminhos se cruzaram
E tão pouco o porquê de ter sido teu amigo preferido...
Oh porque fui eu o escolhido?!
Tudo que estudei não me ensinou isso
Será que nascemos brandos de coração?
São tantas as minhas interrogações,...
Mas de uma coisa eu sei
O amor não está em salas de aula
Em livros ou em faculdades
Ele é sem escolas, é uma ciência inexplicável.
Se um dia eu crescer quero ser igual a esse catador de latinha
O analfabeto que me educou na arte de amar toda pessoinha.
CHICO DE ARRUDA.
PARA O SEU DODÔ, IN MEMORIAN, INFELIZMENTE NÃO SABIA O SEU NOME DE BATISMO.
PEÇO PERDÃO POR NÃO SABER O QUE ESCREVI,... SE POEMA, PROSA, ENSAIO, HOMENAGEM,... ACHO QUE NÃO TEM NENHUM VALOR POÉTICO, MAS ESCREVI.
Houve uma passagem entre nós que jamais esquecerei
Estava eu brigado com um familiar, quando me disse:
“Lembra da frase daquele cara? Disse-lhe qual?
Aquele cara!... Aquele Renato não sei do quê...
Fingi que não sabia quem era e disse-lhe: Pois sim.
E então ele declamou: É PRECISO AMAR AS PESSOAS
COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ.”
Olha,... Estou em lágrimas nesse momento.