Na sala de jantar

Na sala de jantar

geleiras se desprendem da calota,

se lançam ao mar.

Coisas grandes suspiram e desistem,

rangem e racham, se desintegram.

Montanhas—

Abismos—

Paredes—

O chão.

E seus equivalentes em miniatura:

As línguas de gelo deitadas entre meus dedos.

O deserto entre meus seios, meu mar de Aral.

Uma fragata de pesqueiros atolada na areia.

O rei mandou cavar

um canal até a costa

mas esse mar

virou lago que

virou lagoa que

virou poça que

virou areia que

ficará pra sempre assim.

Porquê você pensou que tudo iria quieto?

O mundo não funciona assim.

O gelo estala de raiva como o mais arrebentante dos incêndios.

A areia enterra tudo com um susurro escaldante.

O oceano engole as coisas com um suspiro,

e depois burbulha em silêncios sufocantes.

O rei mandou cavar um canal até a costa

mas não deu tempo.