Tupiniquim

Pus fogo no verso.

Fiz a brasa brasileira incendiar minha palavra.

Fiz minha chama tremular no olhar estrangeiro.

E o que eu disser, na minha língua, pode ser de amor ou de mágoa;

Seja por mar ou por terra, é o que vai chegar primeiro.

Pus meu discurso a sambar na boca do povo.

Nos corações, em qualquer que haja batuque, faço assento.

E verso larga prosa para as nossas dores.

E dou à prosa, o amor dos poetas.

E aos poetas a brisa do contentamento.

Sobre os seios da mulata debrucei meu ditado.

E sendo dito como um moleque vadio.

E sendo feito com palavra e pão.

Nasci no mato e me criei nesse chão.

Estou farto do inglês mal falado e do Jazz.

Quero ser batizado num samba-canção.

E do preto velho, sentado, beijar os pés.

Ô moleque ousado, corre solto na rima e dá um drible na métrica.

És um hiato.

Trovador pós-moderno das coisas fugidias.

Côncavo e convexo.

Que se queda perplexo, frente ao absurdo do dia-a-dia.

Neste tempo, embora eu esteja são, é inútil procurar pelo nexo.

Entre a mentira e o fato, não encerro nem principio.

Levo a palavra comigo, e ela vai.

Ser-se-á cantada ou falada, tanto faz.

Ser-se-á lida, quiçá adorada.

Ou morrerá ancorada à beira de um cais, não sei.

A mim, cabe a tarefa de escrever.

Kaike Lamoso
Enviado por Kaike Lamoso em 16/05/2012
Código do texto: T3670899
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