Tupiniquim
Pus fogo no verso.
Fiz a brasa brasileira incendiar minha palavra.
Fiz minha chama tremular no olhar estrangeiro.
E o que eu disser, na minha língua, pode ser de amor ou de mágoa;
Seja por mar ou por terra, é o que vai chegar primeiro.
Pus meu discurso a sambar na boca do povo.
Nos corações, em qualquer que haja batuque, faço assento.
E verso larga prosa para as nossas dores.
E dou à prosa, o amor dos poetas.
E aos poetas a brisa do contentamento.
Sobre os seios da mulata debrucei meu ditado.
E sendo dito como um moleque vadio.
E sendo feito com palavra e pão.
Nasci no mato e me criei nesse chão.
Estou farto do inglês mal falado e do Jazz.
Quero ser batizado num samba-canção.
E do preto velho, sentado, beijar os pés.
Ô moleque ousado, corre solto na rima e dá um drible na métrica.
És um hiato.
Trovador pós-moderno das coisas fugidias.
Côncavo e convexo.
Que se queda perplexo, frente ao absurdo do dia-a-dia.
Neste tempo, embora eu esteja são, é inútil procurar pelo nexo.
Entre a mentira e o fato, não encerro nem principio.
Levo a palavra comigo, e ela vai.
Ser-se-á cantada ou falada, tanto faz.
Ser-se-á lida, quiçá adorada.
Ou morrerá ancorada à beira de um cais, não sei.
A mim, cabe a tarefa de escrever.