Poema Entediante
Escrevo hoje para checar
se a poesia reserva alguma
palavra para mim.
Serve qualquer palavra,
um verso, um precipício,
um esconderijo ou um abutre,
um riacho ou uma periferia
a perfídia e os indecentes.
Quero palavras de calor ou de
parede. Sonoras ou entreabertas.
Palavas de palavras, de mãos dadas
e pés vendidos. Exogâmicas ou
desnudadas, orgásmicas e sem
sentido.
Vieram. E já vão. Posso dormir
agora e sonhar com o tédio.
Amanhã, o caos pode chegar
a qualquer instante. Cuidado.
E qualquer coisa, dê-me uma
dose de poesia. No sangue.
Com uma agulha grande e
qualquer coisa que rime
com morfina.