A serpente
Em silêncio, sinta meu camarada
a quieta serpente que em seus pés
se enrola e ela sobe, devagar, com esmero em seu ardil
bem feita como flor divina
advinda das mais nobres partes,
lotada do mel da felicidade da juventude do amor do prazer da paz
e de tudo quando deseja nosso ávido coração!
E ela diz com doces palavras '' não tema, em meus braços há sossego confortável
tenha fé, confie em mim, não pense’’.
urra com ordem quando chega na tua genitália! ''Esconda, envergonhe, não mostre, não use. Pecado, pecado.’’
E vai subindo a teu ventre
, mordendo-lhe o umbigo nos teus berros de ''ui ui’’ te conforta, ''filho meu dor tua bem sofrida, povoe a terra com tuas lombrigas!’’
No teu peito sussurra ''Amor é eterno, se perder, não há volta.
Sofra com honra, pela tua dor exerça a nobreza!’’
Ao teu pescoço chora '' não lhe habite nem um chupão,
muito menos daquela que deseja em segredo,
daquela que aos infiéis trás calos à mão!”
Escamas em cruz, importadas da Itália e de algum sepulcro semita,
ouve-se enquanto grita:
'' Chego a tua boca, com fulcro em tua fraqueza lhe abuso,
ovelha minha deixe que falo por ti, só traga a mim meu dizimo, meus fiéis
– e frequente os retiros’’
Aos olhos nada diz que não ''Sossegue enquanto tampo-os,
fé filho meu, acredite no que não vê, mesmo que não exista.’’
Ih, mas não comigo, caro amigo, queimo-lhe a língua
de vil criatura ofídica, piso-lhe a cabeça com orgasmo,
encho-a de meu whisky barato e
com risadas ditas profanas, jogo-lhe fósforo.
Na mesma brasa, acendo meu cigarro, fumaça ao céu, cuspo nesse abismo
e, ainda assim, há mais lógica nesse escarro
que em toda a moral do cristianismo!