RECIPROCIDADE
( Versão Original)
Às vezes,
Às vezes, Ela se sentava,
Displicentemente, à janela.
Em seu silencio, olhava tudo que lhe vinha lá de fora
E, durante horas, se colocava a escrever e escrever.
Às vezes, quando a via assim,
Eu queria tanto e tanto lhe falar,
Mas não sabia como, sem perturbar.
De seu silêncio,
Não raro ela me olhava e sorria.
E eu também a olhava e sorria,
Retribuindo a atenção que havia, entre silêncios.
Tempos depois ela partiu.
E até hoje eu me sento displicentemente à janela,
Olho tudo que me vem lá de fora,
E me coloco a escrever e escrever
O que o meu silencio
Jamais me deixou lhe dizer
É que, revirando as poucas coisas que ela deixou,
Havia uma página escrita
Em que ela dizia
O quanto meu silencio lhe doía
E o tanto e tanto que ela queria me falar,
Mas não sabia como, sem perturbar.
E quando olho tudo que me vem lá de fora,
Só sei do modo como ela me olhava e sorria.
E, então, escrevo,
Como ela escrevia,
Para falar do silencio que tanto doía.