PROFECIA

No último dos meus dias
virá um canário
e música,
asas em perfeito movimento
e o canto do poeta em perfeita harmonia,
virão crianças
mostrando que o mundo continua,
que, passando,
deixam tudo intacto
(talvez um pouco melhor),
virá um mago
a me decifrar as esfinges
e recompor entrelinhas
no meu olhar
para dar novo sentido ao texto,
virão meus livros
dizendo o que não tive tempo
para aprender
de mim e dos outros.
Das portas que não tive coragem de abrir
virão as chaves
e os segredos,
as luzes e os abismos
que não visitei,
as vidas que não quis,
virá a linguagem indiscutível
finalmente perto
de quem a buscou todo o tempo
e ouvidos não mais se fecharão
ao que tenho para dar,
virão a Paz,
a praça e o povo,
o grito derradeiro,
o poema inesgotável que busquei,
nascendo dos olhos da Fênix
na minha última visão do mundo.