um terço, uma vela e um par de grandes olhos

As mãos calejadas da velha

carregam o terço tremulamente

seus olhos já secos pelo tempo

acompanham cada gominho inconsciente

tecendo em suas cicatrizes uma oração

sem nunca ver a sua obra completa

uma oração sem remetentes

Ela que não tem teto e não tem céu

vê calejar em suas mãos a fé

ora inconscientemente

coloca sua dor e suas perdas

não se importa com quem irá ouvi-lá

embora não o saiba

ela já mandou deus ao inferno a muito tempo

Ela escreve sua poesia

onde eu falhei a minha

busca um perdão que ninguém poderá lhe dar

e ela sabe disso

ela mais do que eu é onipresente e onipotente

ela se tornou um deus vivo

um deus efêmero como a noite

que apenas espera um olho se fechar