O PÁSSARO MORREU

José António Gonçalves

O pássaro morreu. Finou-se

em pleno voo. Foi um mal

que lhe deu. E foi-se.

As asas não caíram primeiro.

Pois primeiro caiu o silêncio

nos olhos da tarde. Derradeiro

foi o seu esgar. O Sol, afinal,

desconhecedor, apenas arde.

Uma profunda tristeza tomou

conta do vasto azul celestial.

Não deu para distinguir a sua

cor. Estonteado pelo dia, viu a lua

nos seus ímpetos espertos de pardal.

E depois o seu corpo de penas assomou

o verde da terra e amalgamou-se.

Ninguém escreveu a notícia.

Ninguém se importou.

Mas a verdade

é que neste fim de tarde

um pássaro morreu. Finou-se.

E o Sol, desconhecedor,

apenas arde.

José António Gonçalves

JAG
Enviado por JAG em 29/01/2007
Código do texto: T362139