O Suicida

Já não havia mais prazer torpe

que te causasse assombro.

De todas as vertigens passou

[na vida.

Já não havia mais conhecimento:

O homem nasce, evolui, e morre;

fato inevitável,

de extrema lógica, e ele

já não tinha mais nada para aprender.

Aprendeu sobre o coração das mulheres,

da inveja mesquinha dos pobres de espírito,

já tinha obtido a glória e a humildade

necessária para se ter um ego equilibrado

[e sereno.

Tinha aprendido a ignorar quando necessário,

aprendeu a fazer seu trabalho com diligência e zelo:

tudo que passasse em suas mãos saía com

[perfeição.

Aprendeu a dizer não, e a dizer sim;

aprendeu sobre o universo, soube quando ele nasceu e

sobre suas desventuras.

Já sabia falar todas as línguas e nenhuma lhe era

[indiferente.

Ele sabia de tudo: só não sabia o que era a morte.

E num belo dia, ensolarado e afável, comum aos dias

das pessoas iluminadas, ele resolve testar:

Escolhe o método mais simples:

Uma corda no pescoço, uma cadeira

[e um empurrão.

Debate-se, sente-se sufocado, luta,

mas, no final, desmaia.

Passa o tempo, passa a sonhar, e mesmo inconsciente

lembra-se da mãe, do pai, dos irmãos;

Lembra-se do amor de seus filhos, de sua mulher,

e de seus prováveis netos que sequer chegou a conhecer.

Lembra-se que ainda não tinha aprendido sobre a total velhice,

e como era ter todos os cabelos brancos.

Lembra-se que ainda tinha muito o que viver,

que deveria fazer mais pelos seres humanos,

lembra-se que a vida deve ser vivida, e não

desprezada e lembra-se que poderia tornar este

[mundo melhor.

Mas no final, já no seu ultimo suspiro,

aprende a sua ultima lição:

A sua ansiedade nunca deveria ter sido

maior que a sua sede de conhecimento.