Pedaços Pontiagudos de Eu
Cada ato amoroso
é uma conspiração contra a minha
existência.
Este é um poema para os conspiradores
para as multidões e para os admiradores
de tudo o que não sou eu.
Cada ato amoroso
é uma guerra mundial que explode
em mim. Um holocausto
de uma única pessoa. Um vidro
que se espatifa em um único caco.
Pontiagudo.
Não.
Tranco estas palavras com as chaves
que me restaram. Usarei daqui em diante
palavras velhas e abandonadas que ainda
contém pelo menos um pote de verdade
(ainda que verdades fora do prazo de validade).
Apenas segure-as com cuidado:
se caírem
podem despedaçar o silêncio.
Preciso beber um poema.
Cada ato amoroso
é uma conspiração minha
contra mim,
pois que se me explodo
em mim
sou meu próprio
eu-bomba.
Ver em excesso provoca a ilusão de que não se está cego.
Pois fecho os olhos e me explodo em fragmentos de ilusões
pedaços de vazio repletos de um único instante.
Abro os olhos e berro uma pálpebra.
Cada ato amoroso
é um saco de lixo
derrubado no quintal do meu cérebro
espalhando pelo mundo toneladas
de memórias que se esqueceram
de se transformar em momentos.
Os natimortos não têm cemitérios.