"Outras Coisas"
Terra úmida pela chuva caída em meio à tarde,
raios solares colorem pedaços de nuvens cinzas.
Pelos buracos do teto de zinco do barraco velho
o jovem preto olha o céu e rima sonhos e perdas.
E se pergunta várias vezes
se tem realmente alguma chance.
Respondendo sempre para si mesmo
que só depende dele.
Sem saber que existem outras coisas.
Do alto de prédios esnobes
em volta de mesas redondas
de vidro e ferro,
a partir de escritórios caros,
entre uma dose e outra de álcool e sarcasmo,
se jogam os dados
que definem as chances
dos meros e suburbanos
rapazes favelados
e de péle preta,
residentes em barracos
no lado pobre e propositadamente esquecido
da cidade.
E segue a vida e o jogo
em meio a sonhos quebrados
e futuros despedaçados,
nascidos e enterrados
bem longe dos carros blindados
e dos charutos importados,
entre o chão batido e o teto do barraco,
sem nenhuma oportunidade.
Esbarrados no intransponível muro
das "outras coisas"
que impunimente
desenham o destino
dos jovens pobres e dos indigentes.
Poeta Urbano.