Análise semiótica da minha existência

Minha alma mergulha num tédio profundo

Atrás de mim está uma janela

Que esconde um prédio,

Outro prédio

E outros milhões de prédios

Lotados de pessoas que sofrem

Ou que não tem mais com o que sofrer

A sala tem um ar requintado, duas cadeiras

Quatro quadros

Dois de juramentos idiotas

Um de uma natureza com aves e um verde

Que provavelmente o pintor nunca viu,

No outro

Tem um homem sozinho.

O homem sozinho é negro

E não se sabe bem ao certo

Se ele olha o mar, eu ou a si mesmo

Ao longe você pode escutar carros e motos

Ao longe é claro, porque uma quadra é um universo

Eu queria ter um carro

Para poder querer ter um carro melhor

Eu também queria ter uma casa

Para poder querer ter uma casa maior

Me esqueci de um detalhe na minha cela

Livros, livros e mais livros e mais livros

Mas nenhum que possa me explicar

Por que o homem ama.

E por que eu estou sentando aqui

Enquanto a vida se esvai de mim

Tem uma arvore lá fora

Decrépita quase cinza

E pichações como peripécias

Kitty? Quem é quem kitty?

Quem é a mãe de kitty?

Do que a kitty ri?

Não sei mas eu sei que em algum momento ela existiu

Isso é maravilhoso, embora ela desconheça seus fãs anônimos

Eu tenho uma impressora sabia?

Acho que se eu soubesse arrotar papéis que nem ela

Eu teria dinheiro para comprar um carro

O homem do quadro está correndo

Quem sabe eu o entenda

Quem sabe eu possa ser seu amigo

Acho que na verdade

Acho que talvez

A única coisa que eu faça por mim mesmo

É escrever

E agradeço a meu bom Deus por isso

Embora isto exclua paradoxalmente

O bom e o Deus das coisas feitas por mim mesmo

(Lucas Bueno de Souza Pinto)

HeL
Enviado por HeL em 21/03/2012
Código do texto: T3567563
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