Carnaval

O dia era caro,

Como o amor era raro

O passeio passava na minha casa

E dobrava a esquina,

O meio-fio limitava o cimento quebrado,

Poroso e riscado.

No meio, pedras ajuntadas,

Se conformavam em pedaços de rua...

( Nunca sei onde acaba as coisas)

O cheiro estalado de estrada

Capim seco, quebrando de fraco

Empretado pelo sol, cheiro forte de planta verde..

Escapando e arrastando tudo pra cima

Empurrado pelo vento frio,

embaixo desses pontos,

os meninos jovam bola...

Os filhos de seu Raul

Comia igual bicho,

De olho na carne do outro

Tanta pimenta no prato

Os gorgulhos mortos, amontoados,

Boiavam no caldo bebido

Eram comidos, mastigados, triturados

Pelos dentinhos podres de Robério..

E ele ria de tanto que era gostoso!

Ainda agradecia, pelo coração de Maria...

Que existia na sala, bem do lado

De Jesus, com o rosto bonito, barba impecável,

Cabeça de espinho, sangue descendo na testa..

Sofrendo pela vida eterna

No quarto, e na praça, no quintal,

Até nos dias festivos de carnaval ...

Amedrontado Todo mundo...

“Um homem tão bonito se acabando”

“Ai de ti se não ter fé, menino

O cão preto vai te odiar...

E o inferno, será seu lugar...

Quiá quiá quiá quiá quiá ”

No jantar só se servia medo

Era o prato mais barato...

O diabo se comprava até a granel

Minha mãe cansada.

O trabalho duro,

Lavar roupa no rio das pedras

Tão amarga!

Acordava três da manha

E não tinha vergonha de cantar

Cantava bem na minha cara,

Como se tivesse perdido o bom senso!

Fazia barulho pra se esconder

Dos próprios olhos ...

Tudo bem na minha cara....

Notas eram disparadas

Como metralhadoras,

Matava tudo, menos a pena

De ver tanto amor desperdiçado...

Como pode...

“Aprende logo a ser homem, traste!

Preciso de um aqui...”

Não sabia o que era homem..

Apenas menino,

Brincar, matar passarionho

Correr pelo rio e mergulhar

Andar descalço, cortar taboca pra flutuar, pescar...

Andar de carrinho com a mão...brummmmmmm

E se Elaine deixasse eu beijava a boca dela

Eu juro que beijava,

Sua boca mordeu tudo que eu tinha de bom...

E não saber de nada, nada...

Se alguém ai souber de uma segredo

Por gentileza,

Não me conte!

Eu deixo os mistérios para Deus

Que deve ter uma cabeça muito melhor que a minha...