ASSUSTADOR
Eu me tornei inerte
Aos acontecimentos da vida
Há pouca coisa hoje compete
Uma reação mais emotiva
Nada que aconteça no meu dia
Seja de bom ou de ruim
Consegue apagar essa mania
De uma neutralidade sem fim
Tudo me parece tão normal
Cada fato, no ato previsível.
Mesmo num momento casual
Minha emoção é tão invisível
Até mesmo o que causaria
Uma certa desilusão
Não traz a menor euforia
Pra armadura do meu coração
Chega a ser assustador
Viver assim sem esses extremos
Mas no êxtase a dor
Deixa os pensamentos serenos
Às vezes pareço até ser muito dura
Com as manhas de um acontecimento
Mas em essência a alma se torna pura
Ao limiar do amadurecimento
É quando a tristeza
Não fede e nem cheira
E da alegria a beleza
Torna-se enfim derradeira
Pode parecer por demais triste
Esta minha constatação
Ao perceber que nada resiste
A uma enxurrada de decepção
Mas de fato me sinto muito bem
Apesar de tanta inanição
Penso agora só no que me convém
Apazigüei-me com a solidão
Sinto a alma bem mais leve
Assim dispersa da emoção
A mente alva como neve
Pra calmaria da razão
Longe das tormentas do amor
O pensamento tem mais liberdades
Pra ir buscar outro louvor
E outras possibilidades