LEGIÃO
O céu se tinge de um vermelho indecifrável
E um som, agudo, de trombetas me ensurdece
O gelo queima e cauteriza a minha carne
E o fogo forte da lareira não aquece.
Os cães, lá fora, uivam desesperadamente
E as aves fazem manobras suicidas
Nuvens de insetos sobrevoam a minha casa
E são imunes a todo e qualquer pesticida.
Os telefones estão todos mudos
E os celulares estão sem sinal
A eletricidade foi cortada
Velas impedem a escuridão total.
E em meio ao caos agora instaurado
Um estranho som corta o silêncio qual navalha
E o céu agora meio amarelado
Torna-se um imenso campo de batalha.
A um lado anjos de azul e branco
No lado oposto anjos de vestes pretas
Em cada exército um estandarte
E novamente soam as trombetas.
Mas uma luz ao longe muito forte
Chamou a atenção dos olhos meus
E ao longe estavam assistindo de seus tronos
De um lado Lúcifer, do outro Deus.
E a batalha que já havia iniciado
Tomava rumos vis, sanguinolentos
Acima dos guerreiros, um coral de querubins
Abaixo deles choro, gritos e tormentos.
Lanças e flechas eram disparadas
E eu ali presenciando boquiaberto
Seria aquilo o juízo final?
De mim não havia uma igreja perto.
Mas uma luz branca e misteriosa
Cegou meus olhos, me jogou na lama
E tudo desapareceu completamente...
Estou no quarto deitado em minha cama.