ONIBUS
Um calor
O povo suado, cansado
Egoísta,individual
Blusas de lá fina
Rasgadas
Nas mãos grossas
Sacolas,marmitas O sono
E o pesadelo
Ainda nos olhos da noite mal dormida
Juntos e amontoados
Uma grande tristeza e
Uma grande força de trabalho.
Cheiro de gente
Dinheiro rasgado
Conversas paralelas
Um duro danado
Poeira,vento entrando
Pelas janelas quebradas
Uma porta barulhenta
Um pneu furado
A Canseira
O povo maltratado
Apertado
Seis dias de agonia
Um dia feriado
Uma viagem longa outra curta
Uns de pé outros sentados
Uma tosse um espirro
Resmungos e catarros
Um rádio as escondidas
Um cheiro de cigarros
E o povo calado
Uma risada alta
sem graça
sem dentes
Uma brecada brusca
O silêncio pesado
E o medo de morrer ainda mais
O choro falado
Um grito,o escutar
O ronco do motor
Solavancos, trombadas
E o barulho da roleta
que não para de girar
E o ônibus continua sua longa viagem
as sete
da manhã.