USUCAPIÃO

Dizem das minhas palavras

o que nunca dirão de mim.

Não sabem os que as lêem

Que se escrevo com lâminas

Eu me oculto entre as flores.

Degustam das minhas palavras

Os que nunca degustarão de mim.

Não entendem os que as degustam

Que versos apenas ofuscam o sabor

Original de toda a poesia latente?

Se entorpecem das minhas palavras

Os que jamais se entorpecerão de mim.

Todo o êxtase de qualquer palavra

Vai além do vil torpor tangível da matéria...

E não consta que alma tenha identidade.

Riem das minhas palavras

Os que um dia também rirão de si.

Porque a poesia nunca é terra só de alguém!

Os versos adubam todos os terrenos

Sem donos...os áridos e sem céus.

Nutrem-se das minhas palavras

Os que jamais se nutrirão de mim...

A ninguém é permitida a legítima posse da poesia

E poeta sem verso próprio...

Já é poeta morto.

Então...

Pouco se lembrarão das minhas letras

Os que um dia muito se lembrarão de mim.

Porque se sou a poesia bastarda...

Meu chão sempre é verso legítimol!

Mas a liberdade surrupiou a minha morada.

Não há como coabitar

com tantos versos soltos

dentro do limitado tempo de si mesmo.