PARINDO DE NOVO.
Destravei cada vértebra da minha alma
uma a uma
destroçando cada quinhão, cada soleira, cada rastro.
Fiz das muitas quitudes avessas como rédeas frouxas de um sonho.
Renasci.
Nas malhas úmidas do desejo traduzi meus medos,
meus folguedos, meus festins.
Nos barracões distantes da fé retoquei minha cara,
minha tara, meus reinados ocos de nunca mais.
Sorri.
Se pudesse destilar o rancor das quermesses vazias,
se tivesse fôlego para jorrar meus olhos de mim mesmo,
sabia.
Então como um pároco acéfalo fui catar meus fios de cabelo,
meus pingentes rubros de gritar até nunca mais.
Nos parapeitos da paixão escorei o que tinha de mais calado,
mais atado, mais fecundado.
Como flocos de algodão que jaziam solitários
catei todo pus dos moleques que viviam em mim.
Nessa dança encontrei meus recantos mais febris,
como se fundisse o gozo numa réstia dourada de carmim.
Depois que todos se fartaram, fomos dormir.
E nos parimos de novo.
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