Abandono Conscentido.
Já tem tempos que não me visitas;
já são noites, cada vez mais quentes...
Em que eu trinco de amargura os dentes...
Em que dói minha garganta aflita.
Tu preferes pousar n’algum prédio
e velar minha falta de sono,
pra deixar-me saber que és o dono
deste vício, que não tem remédio.
Mas sinto falta da tua presença;
sinto falta daqueles momentos,
quando juntos, fomos um tormento...
quando juntos, fomos uma ofensa.
Ainda sinto tuas garras frias
deslizando pela minha cama...
Ainda vejo os olhos, em chamas,
queimando, na tua face sombia...
Ainda ouço a voz de trovão
da tua boca, sussurrar meu nome...
Reclamando-me que sente fome,
e devorando-me o coração!
Talvez esperes que eu possa ter
aos teus pedidos um justo sim...
Talvez, esperes muito de mim,
que tanto espero nem sei o quê.