NÃO TENHO NAVIO
Perdi nos naufrágios
veleiros, galés,
levados por ondas
das altas marés.
Perdi marinheiros
que em noites de frio
dormiam nos cantos
envoltos em mantas,
com rostos sombrios.
Perdi meus marujos
de dedos de aço
dobrando as amarras,
limpando o convés.
Perdi meus piratas
com suas adagas,
dobrando inimigos,
pisando-os aos pés.
Em praias distantes
acordo sozinha,
perdidos os sonhos
de um dia voltar
aos mares desertos
dos teus olhos calmos,
tu que és oceano
de escuro e de frio:
não tenho navio
pra te navegar.