Me escrevendo
Embora saiba que lá fora
na vida pulsante da rua
encontra-se a figura
que fará belo meu poema
permaneço sentada no escuro
garimpando imaginário
signo que valha uma prosa
Por preguiça de viver
por medo de sentir
sigo escrevendo
inútillmente
a dor dilacerante
não respeita o escuro
A tragédia minha de todo dia
punhal afiado na carne
não cessa de doer
mesmo comigo imóvel
Costureira de palavras
tateio em busca
da estrofe-linha
do verso-agulha
que costure as feridas
mas não há palavra
que cosa a realidade
Norma de Souza Lopes