Cacique de Guaiviry

Foss’eu levar um adulto,

velho ou criança

me afamaria canibal,

se o homem branco é quem leva

sequer há condição

de julgá-lo cultural.

Foss’eu matar um presidente,

prefeito ou governador

gritariam por “justiça”,

se matam eu mesmo, um cacique

calam-se jornais, políticos:

os índios não rendem notícia.

Foss’eu matar um papa

pastor ou cardeal

enquadrariam os “ateus”,

se matam eu, a xamã

calam-se igrejas, fiéis:

os índios não servem a(pra) Deus.

Foss’eu escrever

neste momento covarde

que o branco me obriga a partir,

diria: sei que a luta

não se faz com o umbigo,

é coletiva e vai prosseguir

pois companheiros de causa,

mesmo que roubem meu corpo,

entendem:

a minha presença, meu grito de luta

desta, sofrida matéria,

transcendem:

“Guaiviry é Terra Indígena,

em frente,

meu povo,

enfrentem!”

Lucian Rodrigues
Enviado por Lucian Rodrigues em 26/12/2011
Reeditado em 26/12/2011
Código do texto: T3408003