RIO DE MIM
Vim aqui me visitar
e encontrei esse vazio
pleno de azuis bordados em saudades.
E vi um sol
com cara de lua
me espiando feito estrela despida de solidão...
Vim, eu mesmo me visitar.
E senti falta de você.
Porque estavas ausente das horas
e tão distante no calendário das lembranças
que fluem como o rio
que vai adoçando caminhos
sem temer o sal do mar...
Eu fiquei nas ausências.
E me vi rastros de meninos jogando bolinhas de gude.
E borboletas mastigando dores, cores, odores, perfumes.
E saí voando, colibri.
E me lembrei da infância onde corria uma montanha por trás do rio.
E me fiz de tanta coisa que nem sei mais.
Pois vim, então
me visitar.
Bicho de goiaba tem gosto de luar.
O resto não sei. Por isso não vou te contar.
(para Helena Luna que gosta das peraltices poéticas de Manoel de Barros... De resto, eu também aprecio. De muito.)
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E vem fluindo a cristalina poesia de HLUNA, rio de muitas margens:
"Se o azul está bordado
de saudades e de estrelas
(sempre me comovo ao vê-las)/
então não está vazio,
muito embora a tua ausência
deixe um espaço em branco
onde, à noite, os pirilampos,
trazem luz pra me alegrar.
Um cheiro de sal e mar
senti mais que de repente,
bem aqui neste presente
sem montanhas e sem rio.
Muitas vezes sinto frio...
falta alguém que, a mim, me esquente.
O que será atavio?
Um laço, talvez, que nos prende,
um enfeite, adorno, fita,
que me torna mais bonita
aos olhos de quem nada vê.
Pergunto: seria, acaso, você?
Lua brilha em minha trilha
- poesia, maravilha."
(Menina Helena, uma boniteza dessas não é para ficar esquecida... Obrigado por trazer esta pérola até o meu recanto... O coração acende estrelas... Não está vazio, pois.)