UM DIA

UM DIA

O vazio flutua entre nós.

O tempo parou.

Estamos sós, no leito do silencio

recolhidos,

e adormecidos.

Mas, mesmo a noite mais longa,

ainda que muito longa e escura

eternamente não dura.

E certamente uma aurora haverá,

em que o desamor cessará

no despertar de um novo dia.

Um dia...

Quando tuas mãos as minhas tocarem,

e as minhas nada sentirem,

e as tuas não estreitarem.

Quando teus olhos os meus encontrarem,

e nos teus olhos já não mais brilharem,

essas estrelas que hoje

eu ainda vejo.

Quando,

embora o sorrir esteja,

a florir os lábios teus,

eu já não sinta o desejo

de tê-los, a sorrir nos meus.

Se, mesmo o vento estiver

nos teus cabelos a brincar.

permaneçam imóveis meus dedos,

a eles não querendo acariciar.

Se, ao ouvir tua voz cantante,

já não vibre e nem palpite,

este teimoso coração,

que a pulsar por ti insiste.

Quando, enfim, eu possa

livre então,

voltar a sonhar...

um dia.

Nesse dia então, menina,

Poderei outra vez falar contigo.

Apenas que... nesse dia...

Que irei dizer a ti?



vsm/sp – janeiro 1967