uma história pródiga

já vivi tanto, tanto

primaveras hostis

verões inteiros aos prantos

outonos intensamentes febris

invernos nem tanto

já vivi

amores plácidos

calmos

quase santos

paixões repentinas

fulminantes

verdadeiros solavancos

romances clássicos

desvendei segredos inacessiveis

dos amantes

escondidos a sete chaves pelos cantos

já passei por tantos lugares

praias desertas

cidades sombrias

quase mortas

bares

utopias

janelas entreabertas

e portas

ancorei em portos baldios

corpos vazios

olhares

aportei em braços queridos

espaços perdidos

luares

de noites e noites

sem fim

fiz em mim

uma história pródiga

em cada marca que fica

em cada carta

que não foi escrita

em cada palavra guardada

que não foi dita

no longo filme

que passa lento

na luz dos meus olhos

nos ventos que eu tinha

e que já não vento

nas linhas cruzadas interminaveis

marcadas nas cicatrizes

das minhas mãos

tão gentis

tão amaveis

assoladas pelo tempo

jose luis lacerda
Enviado por jose luis lacerda em 08/12/2011
Reeditado em 08/12/2011
Código do texto: T3378111