uma história pródiga
já vivi tanto, tanto
primaveras hostis
verões inteiros aos prantos
outonos intensamentes febris
invernos nem tanto
já vivi
amores plácidos
calmos
quase santos
paixões repentinas
fulminantes
verdadeiros solavancos
romances clássicos
desvendei segredos inacessiveis
dos amantes
escondidos a sete chaves pelos cantos
já passei por tantos lugares
praias desertas
cidades sombrias
quase mortas
bares
utopias
janelas entreabertas
e portas
ancorei em portos baldios
corpos vazios
olhares
aportei em braços queridos
espaços perdidos
luares
de noites e noites
sem fim
fiz em mim
uma história pródiga
em cada marca que fica
em cada carta
que não foi escrita
em cada palavra guardada
que não foi dita
no longo filme
que passa lento
na luz dos meus olhos
nos ventos que eu tinha
e que já não vento
nas linhas cruzadas interminaveis
marcadas nas cicatrizes
das minhas mãos
tão gentis
tão amaveis
assoladas pelo tempo