ORAÇÃO AO MENINO QUE DORME
ORAÇÃO AO MENINO QUE DORME
“... JÁ PODARAM SEU DESTINO, SEU SORRISO DE MENINO...
(Milton Nascimento/Wagner Tiso
Coração de Estudante)”
O menino fechou os olhos.
O menino dorme.
O menino dorme e o seu berço
é uma nave prateada cheia de flores.
Cerrados estão os olhos do menino.
O menino dorme.
O menino dorme e o seu quarto
não tem paredes, nem teto e nem chão.
O menino dorme
e o seu quarto é todo o espaço sideral,
infinito.
O menino dorme
e sua nave-berço, de prata e florida,
navega sobre as nuvens,
sobre o mar,
e dentro do azul.
O menino dorme.
Círios de cometas e estrelas
iluminam sua longa noite e seu longo caminho,
rumo à luz, rumo ao Sol.
O menino dorme.
Façam silencio, por favor.
O menino dorme
e precisa sonhar.
Uma canção?
Sim, uma canção.
Algumas canções;
podem cantar, pois ele
era um garoto que como nós
amava os Beatles e os Rolling Stones.
E também
Elvis, Elton John,
Simon & Garfunkel,
Bob Dylan, Renato Russo,
Strauss, John Barry, John Williams.
As trilhas sonoras
que juntos percorremos,
que juntos cantamos.
Que marcamos, passo a passo.
Marcas que juntos deixamos
gravadas no tempo,
para todo o sempre.
O menino dorme.
O menino adormeceu para poder ficar
para sempre menino.
O menino que já fomos,
que já não somos,
e que não seremos nunca mais.
O menino dorme.
O menino dorme e dormindo é criança.
E criança será sempre.
Nós, os velhos, em vigília,
cada vez mais velhos ficamos.
E por ele, e por nós,
em silencio,
velamos.
O menino dorme.
O menino dorme sereno e sonha sonhos.
Brinca de Luke Skywalker,
de Capitão Kirk.
Viaja no tempo e no espaço.
Está no princípio, está no agora,
está no futuro, está no sempre.
Pula da Terra para Marte,
da Lua para Saturno,
de Venus para Júpiter.
Desliza pela Via Láctea, vai até Andrômeda,
Vega, Altair, Aldebaran e Tatooine.
Das constelações faz um colar, e
no pomar do Universo, colhe
Os frutos dourados do Sol.
Salta para o Hiper-Espaço, e
Na sua Odisséia,
Vai alem de 2001
E alem da curvatura da Luz.
A Força está com ele.
O menino dorme.
O menino dorme
e sua florida e prateada nave,
movida pela Luz,
está cada vez mais distante.
Alem da nossa visão.
Alem da imaginação.
Deixou-nos,
em sua ultima cruzada,
o seu amor e a sua paz.
Agora, navega em sua
Jornada nas Estrelas,
De Volta Para o Futuro,
Na missão de um novo princípio.
Data estelar: 03-03-1970.10-01-1998.
Em seu diário de bordo,
os nomes de todos nós,
que aqui na Terra,
após sua passagem,
ficamos muito, e cada vez,
mais sós.
Mas, fica também a esperança,
ainda muito incerta,
de um encontro futuro,
quando o velho e a criança
poderão enfim se abraçar,
para, quem sabe,
nunca mais se separar.
Pois se, em algum tempo, e se
Em Algum Lugar do Passado
juntos já estivemos,
e neste presente amigos fomos,
um dia voltaremos a nos encontrar,
para um novo princípio,
para uma nova missão.
Por esse dia,
para esse dia chegar,
resignados ficamos,
e pacientes,
por Ele esperamos.
Enquanto esse dia não chega,
Guardemos no coração,
Todo o amor, toda a lição
Que sua alma deixou.
E por ter sido
eu seu pai,
e ele meu menino,
dou a ele, em gratidão,
não o pranto,
e sim o canto,
deste meu poema oração:
“Já não o tenho mais, meu filho,
A te embalar nos braços meus;
Sei porém que melhor estás,
nos amorosos braços de Deus.
Vai então meu menino, vai,
no teu caminho de Luz,
Pois tens um encontro marcado,
com o Mestre Amado — JESUS!”
∞
“... QUALQUER DIA AMIGO, A GENTE SE ENCONTRA... – Milton Nascimento/Fernando Brandt – Canção da América”
(*) “In memoriam” ao meu filho, Enio (Nô) —  03/03/1970  10011998 — cuja luz espero, brilhe sempre muito, muito mais do que a minha.
Jdim. dos francos / sp – janeiro/1998