não chovo mais
colho restos dos meus pés
no caminho
como colhia flores
antes de estar sozinho
guardo nos olhos
paisagens
pessoas
viagens
como guardava nas fotografias
como fazia versos impregnados
nas poesias
escondo no fundo das gavetas
nos cantos dos armários
em caixas lacradas
dentro do meu peito
lembranças
bilhetes
enfeites
perdulhicalhos
coisas inuteis
ocupando espaços
lembranças futeis
fastiando o cansaço
dos meus pensamentos
tenho andado tão lento
tenho andado tão calmo
não chovo mais
não vento
vivo tão em paz comigo
como há muito tempo