O DERRADEIRO INVERNO
O DERRADEIRO INVERNO
“Nossas vidas são feitas de uma
série de passagens  os estágios da vida,
o passar dos dias e das estações,
mas especialmente as crises pessoais
e as épocas de angústia
psíquica  e essas passagens
sempre provocam uma interação
entre o sagrado e o profano.”
Françoise O’Kane
in “A Sombra de Deus”
- O Ritual da Vida -
Primaveras,
verões,
outonos,
invernos.
Nascentes. Poentes.
Flores, Cores. Amores.
Mares. Cantares. Pesares.
Sois. Girassóis.
Luas. Faluas. Sozinhas.
Suas. Minhas.
Luas.
Crescentes. Silentes.
Minguantes. Amantes.
Novas. Cheias.
Vazias. Frias.
Mar. Seu olhar.
Pré-amar. Baixa-mar.
Não amar.
O chorar. O secar.
Um dia. Um ano. Uma vida.
Há vida. Ávida.
Os dias azuis, os tempos dourados.
Amores sonhados. Amores cantados.
Amadas chegadas. Amadas cantadas.
Amadas amadas.
Amadas chegadas.
Partidas. Perdidas.
Adeus.
À Deus.
Há Deus?
O Pai. O Filho. E os Espíritos, Santos.
Os mantos. Os prantos.
Agora, e por todas as horas das
nossas
Vidas (Também).
Amém.
Amem. Sempre.
A tudo e a todos.
Desde antes e por todo o sempre.
A vida. As vidas.
O tempo.
A vida.
Havíamos. As vimos. As vemos.
Houvéramos. Haveremos.
Haveremos?
Esperemos.
Imagens. Vozes. Canções.
Ilusões.
Os sonhos nos olhos.
Os sonhos nos braços, nos passos.
Traços.
Espaços.
A vida. O tempo.
Pedaços.
Os dias. Os anos.
Os tempos passantes.
Os passos errantes.
A busca. A procura.
O cansaço.
Nas folhas que caem,
os sonhos desfeitos
que o vento carrega.
A estrela tremula, a luz se dilui.
O escuro que chega, as vozes ausentes.
O silencio mais forte, o barco sem norte.
Dos rios da vida, apenas um corte
e a vida se esvai
para o berço da terra, que enlaça
que abraça, que acolhe.
que embala.
E que canta bem baixinho, na brisa que passa,
uma canção de ninar.
vnc/sp – agosto/1996 (inverno)