LÍNGUA AFIADA
Estendo a mão, mas está calejada,
é mão de operário sim senhor.
Sem paletó, gravata, língua afiada,
sou só um proletário seu doutor.
As rugas no meu rosto olha seu moço
são marcas de uma vida de labuta.
Estou já quase no fundo do poço,
mas nunca desisto vou à luta.
As contas estão pagas, pago em dia,
comida, moradia e tudo mais,
mas o arrocho e tanta covardia
arrastam-me sempre um passo para trás.
E seu doutor, a indiferença é tanta,
que até assombração já não me espanta.
Estou sempre à espera de um milagre,
mas rezar e cruzar os braços não adianta.
Saulo Campos - Itabira MG