LAMENTO
Só por hoje
quero cantar o meu lamento,
sem eco, sem retorno,
só o silêncio frio e atroz.
Só por hoje
quero escolher a solidão,
seu pranto, sua lástima,
veneno mortal.
Só por hoje
quero estar perdida entre dois caminhos,
escolhas que me destes:
meu mal, ou meu mal.
Só por hoje
quero arrancar da minha carne
a chaga corrosiva
e aplacar a minha dor.
Só por hoje
quero contemplar o vão entre nós.
Existe um NÓS?
Ou estou a sós?
Só por hoje
quero me perder no esquecimento,
na conformidade do nada:
Nada a fazer, nada a esperar.
Só por hoje
quero derramar estas lágrimas ácidas,
que dilaceram a face por onde passam
e morrem na língua, amarguradas.
Só por hoje
quero beber dessa tristeza
que transborda em cálice
e cala toda a esperança vã.
Só por hoje...
Porque amanhã,
Renasço das cinzas,
Como a Fênix mitológica,
Refaço-me do que restou!