VOZES

A voz do trovadorismo

que “ no mundo non me sei parelha “

aconselha-me a buscar nos versos

o País que não conheci .

A voz do classicismo

“ quando entoar começa branda “

desperta-me com Sá de Miranda

sonhar com o que não vi .

A voz do Barroco

fala Sermão de Vieira

“ contra as fadigas do desejo “

beirando um Tejo que não bebi .

A voz do Arcadismo

“ao longo de uma praia em triste dia “

“ com seus cuidados só por companhia “

sorve em Reis Quita o Soneto que li .

A voz do Romantismo

de Garret a João de Deus

que “ responde a suspiros meus “

da “ Barca bela “ em que fugi .

A voz do Realismo

que me “ desperta desejo de sofrer “

e com Antero e Junqueiro

canta os mortos com os quais não convivi .

A voz do Simbolismo

“ tão viva que é apenas sentimento “

“ por um momento polui e rasga o linho “

da cama em que não dormi .

A voz do Modernismo

que “ nas janelas do meu quarto “

chama Fernando Pessoa

que entoa o que não escrevi .

É a voz de Portugal sempre novo

na voz eterna dos Poetas

cantando a alma de um Povo

do qual , com orgulho , descendi .

É a voz de Portugal amigo

que acarinha e aquece corações

com as cinco mil palavras dos Lusíadas

legadas pelo gênio de Camões .

Tórtoro
Enviado por Tórtoro em 12/07/2005
Código do texto: T33323