VOZES
A voz do trovadorismo
que “ no mundo non me sei parelha “
aconselha-me a buscar nos versos
o País que não conheci .
A voz do classicismo
“ quando entoar começa branda “
desperta-me com Sá de Miranda
sonhar com o que não vi .
A voz do Barroco
fala Sermão de Vieira
“ contra as fadigas do desejo “
beirando um Tejo que não bebi .
A voz do Arcadismo
“ao longo de uma praia em triste dia “
“ com seus cuidados só por companhia “
sorve em Reis Quita o Soneto que li .
A voz do Romantismo
de Garret a João de Deus
que “ responde a suspiros meus “
da “ Barca bela “ em que fugi .
A voz do Realismo
que me “ desperta desejo de sofrer “
e com Antero e Junqueiro
canta os mortos com os quais não convivi .
A voz do Simbolismo
“ tão viva que é apenas sentimento “
“ por um momento polui e rasga o linho “
da cama em que não dormi .
A voz do Modernismo
que “ nas janelas do meu quarto “
chama Fernando Pessoa
que entoa o que não escrevi .
É a voz de Portugal sempre novo
na voz eterna dos Poetas
cantando a alma de um Povo
do qual , com orgulho , descendi .
É a voz de Portugal amigo
que acarinha e aquece corações
com as cinco mil palavras dos Lusíadas
legadas pelo gênio de Camões .