A TERRA É AZUL

A TERRA É AZUL

a Yuri Alekseyevitch Gagarin

A Terra é azul.

A Terra é azul e cada vez menor.

As estrelas, que eu julgava azuis, são brancas.

São brancas e minha nave passa tão perto

que eu estendo as mãos e as toco.

As estrelas são frias.

A Terra é azul e quente.

A Terra é azul, quente, e está cada vez mais distante.

A Lua já nem vejo mais.

A Lua que eu julgava prata, era um deserto cinzento,

gelado e tórrido.

A Terra que eu pensava cinzenta

é azul.

É azul e cada vez menor.

O Sol é um colossal incêndio na Via Láctea,

e a Via Láctea é sua esteira de fagulhas.

É também um milhar de vagalumes.

Ou um milhar de olhos que piscam, de lágrimas que oscilam,

de células que pulsam.

A minha nave é de aço e a minha roupa é de plástico.

A Terra... a Terra ERA azul?

Não... sim... não...

A Terra era... era... era..

Minha nave é azul e o meu corpo é de prata.

Meu corpo é azul e a minha nave é de prata.

Meu micro corpo e minha pequenina nave.

Azul e prata.

Prata e azul.

No espaço negro.

Imensamente negro.

Infinitamente negro.

Para sempre negro.

Negro... Negro... Negro...

vsm/sp-abr/1971